Mato Grosso e o seu futebol decadente: Esporte das multidões até o final da década de 1980, não consegue reaproximar clubes e torcedores
Matéria publicada no jornal Folha do Estado, no dia 22 de julho de 2012
ULISSES LALIO
REPORTAGEM LOCAL
A crise no futebol mato-grossense não é segredo para ninguém, mas quais são as causas para o desinteresse do torcedor e para o declínio dos times regionais? Cenário instalado desde o final da década de 1980. Como explicar a lotação dos bares, nos dias de jogos do eixo Rio de Janeiro - São Paulo, contra o pequeno público nos estádios da Capital? O doutor em sociologia, pesquisador na área da sociologia no esporte e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Francisco Xavier Freire Rodrigues, aponta algumas das respostas
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Joab Barbalho |
Segundo o professor, exitem várias causas que levaram o futebol do Estado a entrar em declinio. "A má administração, por parte dos dirigentes de futebol, é uma das principais razões para os times terem perdido o grande brilho de outrora", disse. Conforme Francisco Xavier, o futebol deve ser tratado como um esporte de massa e por isso os torcedores são, antes de qualquer coisa, consumidores. "Se essa idéia não está bem definida na cabeça dos dirigentes, o futebol de Mato Grosso nunca sairá da marginalidade", afirma.
Com a globalização, o esporte de 'ponta' ganhou maior notoriedade nas grandes redes de TV aberta e pay per view. Os jogos dos grandes centros e o futebol europeu passaram a ser prioridade na transmissão. "Isso levou o torcedor a preferir a comodidade dos restaurantes e bares em detrimento dos estádios sucateados e violentos", conta o pesquisador. "Outra razão para essa crise é o grande número de imigrantes que vieram de outro Estado, desconhecendo a tradição e a história dos clubes regionais, dificilmente irão frequentar o Dutrinha, por exemplo", explica o Francisco.
ATITUDES:
"Os dirigentes precisam para de mendigar dinheiro do Estado, as mídias locais tem que oferecer mais atenção"
O pesquisador também revelou algumas ações para solucionar esse problema. "Os dirigentes precisam parar de mendigar dinheiro do Estado, as mídias locais (TV, rádio, jornais) tem que oferecer mais atenção e espaço para os jogos, o marketing tem que ser levado a sério e os clubes necessitam assumir seu papel como empresa, dessa forma o futebol regional terá grande chance de sair do buraco que está".
A reportagem do jornal Folha do Estado perguntou sobre o futuro dos estádios construídos para a Copa do Mundo de 2014 e o professor que está realizando um estudo sobre a copa do Pantanal, respondeu seguramente que se a atitude dos times regionais não mudar as obras provavelmente se transformarão em 'elefantes brancos'. "Apesar das arenas serem multiuso, construídas para abrigar grandes shows, shoppings e ter a autonomia de 'importar' jogos da seleção, ou de times de fora, essas obras correm o risco de ficar subutilizadas como o ginásio Aecim Tocantins".
No entanto, o presidente da Federação Mato-grossense de Futebol (FMF), Carlos Orione, discorda que a Arena Pantanal irá se transformar em 'elefante branco'. "Hoje o torcedor não vai aos estádios porque todos estão em más condições, mas quando for agradável, e seguro frequenta-los, eles lotarão", afirma o presidente. Para Carlos Orione, a crise do futebol é culpa da falta de investimentos no esporte. As empresas não se interessam, o governo, às vezes tenta ajudar, mas não é suficiente e enquanto isso os times vão se desgastando.
As palavras do professor Francisco Xavier são reafirmadas pela experiente torcedora que é símbolo do Mixto E. C. de 90 anos, a senhora Maria Silva, conhecida como Nhá Barbina. "O jogador de hoje está interessado em dinheiro e mulheres, antes era questão de honra vencer um jogo", conta ela com seu legitimo sotaque cuiabano. Emocionada, Nhá Barbina conta das aventuras de outros tempos: "Nós mixtenses que já disputamos jogos contra o Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, hoje não sabemos ne o nome dos times vencem do time. O nosso prazer em ver o Mixto ganhar era muito grande e por isso os nossos gritos e musicas eram apaixonados".
NHÁ BARBINA:
"O jogador de hoje está interessado em dinheiro e mulheres, antes era questão de hora vencer um jogo"
Ainda hoje Nhá Barbina não largou a bandeira do seu time querido e nos dias de jogos, o radino de pilha - seu eterno companheiro - rompe o silencio das tardes dessa torcedora que já sorriu e chorou pelo seu time. "Por causa das minhas dores, não posso ir ao estádio, mas enquanto estiver viva gostaria de ter notícias do meu querido alvinegro", explica ela.
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Joab Barbalho |
Nhá Barbina finaliza apontando uma saída: "Quando os donos dos times começarem a chamar só atletas que estão interessados e que vestem a camisa com responsabilidade, nós os torcedores teremos orgulho em lotar os estádios, comprar camisas e até assinar a carteirinha de sócio".